Começamos a trabalhar com treinamentos em desenvolvimento web quase por acidente. Estudamos padrões web e muito javascript, porque isso nos tornava mais produtivos, e as pessoas começaram a nos pedir indicações de onde aprender a programar. Como eu sempre gostei de ensinar, começar foi fácil. Naturalmente nos focamos em treinamentos de nível intermediário e avançado. Quem chegava a um de nossos treinamentos já era profissional da área.

Falando especificamente dos cursos que eu ministro, Javascript Crossbrowser, Ajax e Python foram feitos para quem já sabia programar. Não ensinamos lógica de programação, sintaxe do Javascript ou a estrutura básica do desenvolvimento web.

Agora muitas pessoas têm nos procurado para saber como aprendem a programar e isso tem me colocado uma grande interrogação na cabeça. Como ensinar alguém, de verdade, a programar? O mercado está cheio de cursos de “PHP básico”, “Javascript básico”, “Delphi básico” e “Qualquer Outra Linguagem Básico”. Mas esse não é um bom jeito de se ensinar programação. É impressionante a quantidade de pessoas por aí que fizeram o curso básico, o intermediário e o avançado, e nunca aprenderam programação de verdade. Infelizmente, a maioria das faculdades também não está cumprindo o seu papel.

Aprendendo a programar de verdade

Programação é muito mais do que saber comandos e técnicas de uma linguagem, é um jeito de pensar. É como jogar xadrez. Todo mundo que aprendeu de verdade a jogar xadrez, passou por duas etapas. Primeiro, aprendeu as regras, como se mexe cada peça, como se faz roque, en passant, promoção de peões etc. Depois de tudo isso, finalmente começou a aprender a jogar. Aprendi o movimento das peças com dez anos. Aprendi a jogar com catorze.

Meu pai tinha uma farmácia e eu trabalhava meio período como entregador. Os negócios não iam muito bem, o que significava que eu tinha muito tempo livre. Foi quando conheci meu tutor. Era um senhor aposentado, que tinha ainda mais tempo livre do que eu, e gastava parte dele com um dos passatempos prediletos de muitos aposentados: comprar remédios. Um dia me viu com um tabuleiro, e perguntou se eu queria jogar. Levou mais de seis meses para que eu ganhasse a primeira partida. Foram seis meses que ele passou me ensinando, sem me dizer o que estava fazendo. Repetia a mesma abertura dezenas de vezes, até que eu conseguisse me defender dela. Em seguida, começava com outra abertura.

Imagino uma escola de programação assim. Um lugar onde você é desafiado com um tipo de problema até conseguir resolvê-lo bocejando, aí partimos para outro tipo. Uma “academia” de programação, um lugar para se ensinar a pensar, a resolver problemas.

Sonho com essa ideia desde o dia em que a tive.